09/09/2013

Independência ou prisão, Alegoria da Caverna e Matrix

Dia da independência do Brasil. Mais um dia de tentativas, luta pela real independência: da mente.  Um pais que há mais de 190 anos tornou-se independente da maquina imperialista chamada Europa, porém a dependência permanece, mudando somente os atores da grande peça, principalmente o papel de comandado. Um país só é independente quando permite que seus filhos o sejam, igualmente. Livres fora da teoria, fora da nova ordem. O problema é que tudo está relacionado. Se quisermos apenas entender como tudo funciona, a relação das coisas não é um problema, e sim um quebra cabeças, que juntamos as peças até que tudo faça sentido. Entretanto, a partir do momento que se entende demais, a motivação pela real mudança cresce, a ponto de ser maior que o próprio sistema. Então encontramos mais um problema: o sistema é grande. É uma ordem mundial, uma rede globalizada que te prende. Para viver em sociedade é preciso fazer parte desta ordem, mesmo que a sua mente não seja mais a mesma... Mas como viver com uma mente anti-nova ordem, na própria nova ordem? Não há como, simplesmente. Então passamos a aceitar essa tal de teia, globalização que intensifica a desigualdade.

Passamos a ignorar e não ligar muito para essa injustiça toda fruto da ordem e progresso, afinal, é um progresso para nós, pessoas com papeis com números em um bolso e plano de saúde no outro. Temos um carro na garagem, para que se preocupar com quem anda de ônibus? "Eles que trabalhem, assim como nós, para ter seu próprio carro, para ser pelo menos classe média". Pronto, quando menos percebemos, já permitimos que a tão famosa e menosprezada alienação da nova ordem nos envolva. Ao contrario do que pensamos, a alienação não nos domina. Nós a dominamos, á adoramos! Afinal ela é uma fuga, nos faz esquecer o real, tão sujo que chega a ser imundo. A verdade é que preferimos ficar lá dentro da caverna de que Platão falava.

Em sua alegoria, Platão descreve homens prisioneiros, acorrentados dentro de uma caverna, onde nasceram e lá permanecem até a morte. Tudo o que podem ver são sombras do mundo exterior. Vêm sombras de homens e, através do eco da caverna, ouvem vozes as quais assemelham as sombras, as únicas ao alcance de suas visões. Imagina-se que um dos prisioneiros liberta-se e, após uma longa subida com obstáculos e empecilhos, chega ao mundo exterior, o até então “mundo das sombras”. Descobre que as tais sombras não eram a verdade, e sim parte dela. Descobre a luz da razão, do real conhecimento ainda não empírico de sua nova verdade que nunca pode ver. Imagina-se também que este mesmo preso queira contar aos outros prisioneiros o que viu, que tudo o que sabem até então é uma parte da verdade, e que tudo que eles tinham como real não é realmente. Mas é difícil de acreditar. É difícil escalar a caverna e habitar-se a um mundo iluminado e livre de correntes e escuridão. O mundo exterior e sua luz são poderosos, e eles já estavam acostumados a serem cegos. Esse mundo é incerto e provavelmente irreal. Então, o mais fácil é excluir o homem que livrou-se das corrente e dizer que seus novos ideias estão errados, que são mentira. É mais fácil permanecer na caverna e eliminar a minoria do que desacomodar-se do habitual.

Essa alegoria da caverna é simplesmente a nossa realidade. A caverna é a escuridão, a falta da luz da razão; é a pseudo realidade, a omissão, o estar-se preso por vontade. O mundo exterior é a realidade, o mundo da luz da razão e conhecimento. No contexto, o mundo exterior faz com que a caverna seja o mundo da alienação, a prisão da mente. Vivemos na caverna e o que temos como verdade pode ser menos que uma sombra dela. Menos que sussurros que achamos vir de algo “real”. Isso é tão assustador que não queremos ouvir, não queremos que nos digam que estamos errados, que sempre estivemos!


Negamos o novo e desconhecido por isso, pois a caverna é o que sempre tivemos! Com isso, continuamos a viver neste mundo escuro e não nos afetamos por minorias contrarias; respondemos minorias com a repressão física. Sim, digo no plural, pois somos cumplices; cavamos a nossa própria cova. A força policial repressora vem daqueles que são comandados pelo governo que, democraticamente falando, é comandado por nós! Não na pratica por completo, mas afinal, o voto não é obrigatório? Claro que a consciência eleitoral não vem no pacote de obrigatoriedade, e isso explica a cumplicidade. Todos somos um só, e por mais politicamente correto que isso soe, é a realidade. Aquele que muitas vezes chamamos de bandido, vagabundo, que rouba nossos valiosos pertences ou nossas simples vidas, pode ser simplesmente fruto de injustiças sociais, causadas pela minoria que detêm o aparelho de estado e a poderosa mídia hegemônica  ditam a ideologia da ordem mundial. Portanto, querendo ou não, a ação de outro alguém nos afeta agora ou daqui à anos. Por isso, repreender e omitir minorias nos faz regredir historicamente e socialmente. Nos faz rejeitar o futuro e reflete a dialética do "progresso".

Mal sabemos que há um mundo exterior à ser explorado. Então exploramos a caverna, onde não há muito que se explorar, e achamos que é o que basta. Portanto nascemos, estudamos com o objetivo de passar na faculdade dos sonhos (dos outros) e arrumamos um emprego excelente, que nos pague mais que o suficiente para podermos comprar tudo que achamos que sempre sonhamos, exceto a felicidade, aquela que passamos a vida inteira planejando-a e esquecemos de vive-la, pois estamos ocupados vivendo a ideologia da caverna: a exploração sistemática que nos impõe como devemos viver, sem que sequer nos demos conta. Vivemos na escuridão, na ilusão de um mundo onde o conhecimento nada importa, além de sua necessidade para “passarmos no vestibular”, e ser alguém que querem que sejamos. Quando percebemos já é tarde demais, estamos muito cansados e acomodados para escalar o caminho cheio de empecilhos da caverna até o mundo exterior.

Então assim vivemos, achando linda a ideologia que alguém nos ditou e continuamos o processo sistemático, como maquinas programadas. Propagamos a ideologia da ascensão social para todas as classes, ate mesmo aquela que pouco nos importamos, que a nosso ver só serve para derramar seu suor transformado em trabalho mal pago, mas que paga o suficiente para que possam manter a gloriosa ideologia do consumo, semente para a ascensão social, que os ensinamos ser necessária para a futura felicidade. Esse mecanismo começou assim que a ideologia capitalista começa seu império mundial e inicia o chamado liberalismo econômico do século XIX, e assim, passa a ser glorificado, permanecendo e crescendo cada vez mais.

Até quando vamos viver na caverna? Até quando vamos permanecer calando minorias que, em geral, já saíram da escuridão? É necessário abrir a mente e enxergar além de sombras. É preciso esquecer um pouco a ideia do real que conhecemos e procurar entender através do conhecimento que podemos ter. E se simplesmente parássemos pra pensar, pelo menos uma vez na vida, e buscar respostas? O porquê de tudo isso, porque devemos trabalhar para comprar coisas que nem precisamos? Porque devemos comemorar a independência de somente uma minoria, que nos faz presos de sua ideologia de ordem e progresso mascarada? Porque devemos obedecer a um mundo do consumo, que ficou parado no tempo desde o pós Primeira Guerra?

Assim como a Alegoria de Platão, o filme Matrix retrata a grande escolha: fechar-se ao mundo que achamos ser real e cegar-se a ponto de observar somente o que nos é dito ou abrir a mente para observações e percepções que queremos ter, e acreditar que o real é um ponto de vista. A pergunta é: Que ponto de vista você quer ter? 



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