A
banda Gurizada Fandangueira tocava na boate Kiss e as pessoas se divertiam bastante
quando o pior ocorreu. Eram quase três horas da madrugada de domingo do dia 27
de janeiro em Santa Maria, Rio Grande do Sul, quando teve inicio uma
apresentação de efeitos pirotécnicos no interior do recinto.
O uso do que provavelmente era um
sinalizador, provocou uma faísca e deu inicio ao fogo que atingiu a espuma do
isolamento acústico do teto da referida casa noturna. Presentes relataram que
um dos músicos até tentou conter o fogo, porém por motivo ainda não
identificado, o extintor de incêndio simplesmente não funcionou. O material que
se tornou causador da tragédia é nada mais nada menos do que espuma de poliuretano. Além de ótimo
isolante acústico, quando não recebe a adição de um composto químico para
retardamento da combustão, é inflamável, propaga o fogo com velocidade e
segundo o pesquisador do Laboratório de Biomateriais Poliméricos do Instituto
de Química da USP, Ricardo Bentini, também impede que o calor se dissipe
fazendo com que o calor e as chamas aumentem de forma muito mais rápida do que
aconteceria em um lugar que não tivesse esse revestimento.
Fumaça, monóxido de carbono e gás
cianídrico resultantes da decomposição de outros materiais presentes no ambiente,
tais como móveis e portas garantiram a intoxicação daqueles que inalaram
os mesmos gases que no passado já foram utilizados nos campos de
concentração nazista e que ainda hoje são utilizados nas sentenças de morte por
gás, nos Estados Unidos. O envenenamento químico que matou os estudantes
presentes na boate, também foi devido à ação de várias substâncias formadas em
decorrência da degradação térmica do poliuretano.
Um desses materiais, o isocianato de
metila, é o mesmo vilão que matou mais de oito mil pessoas em Bhopal, no
famoso e trágico episódio que aconteceu em 1984 na Índia, causado por um vazamento
na empresa Union Carbide.
Pneumonite Química entra para o
nosso vocabulário, e claro, sobra tristeza por vermos tão nobre ciência em uma
notícia que contrasta com as benesses que tem trazido para a humanidade.
Somente não é mais triste que as perdas de vidas que tinham naquela noite a
pretensão de encontrar apenas um pouco de alegria.
Glossário:
Pneumonite química é a doença provocada por
produto químico inalado ou fumaça quente. No caso da inalação da fumaça, esta
chega aos pulmões, lesa os alvéolos, que são as menores estruturas pulmonares
responsáveis pela oxigenação do sangue, fazendo com que fiquem preenchidos de
líquido. O organismo percebe a agressão ao pulmão, envia células de defesa,
que, também se acumulam nesse local terminando por provocar fibrose. Esta por
sua vez, espessa a membrana que separa o oxigênio da corrente sanguínea,
dificultando a oxigenação do sangue e causando insuficiência respiratória.
(Fonte:
Dra. Rosita Fontes citada em http://saudeweb.com.br/voce-informa/riscos-e-sintomas-da-pneumonite-quimica/)
Monóxido
de Carbono Gás Cianídrico Isocianato
de Metila
HCN H3CNCO
Síntese de um poliuretano (exemplo)
Bibliografia
Livro:
Química na abordagem do cotidiano – Francisco Miragaia Peruzzo (Tito)
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