05/04/2013

Os Miseráveis - Amanda Salgado


Analogia


             A obra “Os miseráveis” (título original Les Misérables), escrita pelo francês Victor Hugo foi publicada em 1862. Originalmente não era um musical, até que em 1980 em um teatro de Paris, o diretor Robert Hossein inaugurou a versão até então inédita da obra: O musical de Os miseráveis. O sucesso repercutiu em teatros de outras grandes cidades como Nova Iorque e Londes, além, claro, do cinema e da televisão. A última versão cinematográfica da obra, como musical, foi lançada no início de 2013, estrelando grandes atores hollywoodianos e dirigido pelo britânico Tom Hooper. Vamos discutir aqui o olhar histórico-sociológico deste filme baseado na obra original, e sua completa conexão a Revolução Francesa.

           O filme relata o romance que se passa no período da ilustre Revolução Francesa, que carrega consigo importantes contextos histórico-sociológicos. Além disso, envolve o amor e a miséria da classe social proletária, esta causada pelo antigo regime: A monarquia absolutista. Tal miséria é extremamente relatada tanto na obra quanto no filme, na vida de todos os personagens que correspondem ao proletariado e a burguesia. Podemos dizer que o filme tem como foco central o panorama socioeconómico da sociedade francesa do século XIX. 
           A relação do filme com a revolução francesa é muito maior do que o simples fato de se passarem na mesma época. A conexão entre ambos se deve a ideias iluministas, de liberdade, que concretizarão  o liberalismo. A ideia de que essa nova filosofia politica poderia acabar com a monarquia absolutista, acabar de uma vez por todas com o luxo que a monarquia e o clero tinham, as custa do suor e sofrimento, que geravam miséria ao proletariado, grande parte da população. A burguesia também aderia ideias liberalistas, liberalismo econômico e político, por exemplo. Queriam o poder do voto, ansiavam cada vez mais uma democracia, que atendesse seus interesses. Ambas as classes sociais irão lutar, construir barricadas, cortar a cabeça do Rei!

                

           No filme isso é muito bem relatado por personagens como Enjolras, o estudante líder do grupo político a favor da democracia, liberdade, igualdade e justiça: os “Amigos do ABC” (Les Amis de L'ABC). Ele e a grande maioria dos integrantes desse grupo político correspondem a burguesia, porém alguns jovens revolucionários como Marius Pontmercy pertenciam a aristocracia, porém, seguiam o conceito do liberalismo. O filme mostra as reuniões desses jovens revolucionários, que acontecia no Café ABC, e o amor pela pátria, que se transformara em miséria. A pátria estava mudando de cor. O passado, a monarquia, era preto para eles. Porém, estava se tornando vermelho, a cor que antes era usada como símbolo do poder aristocrático agora representa a cor da revolução. A cor do sangue proletário e burguês que era constantemente derramado, em tentativas de derrotar a Guarda Nacional, construindo barricadas e utilizando armas, além do anseio de acabar com o absolutismo, preto. 
         O grande dia que o grupo ABC planeja é quando guiará o povo, o proletariado, darão armas a estes e subirão nas barricadas, derrotarão de uma vez por todas o antigo regime. Esperavam um sinal, um motivo a mais para atacarem. Gavroche, o pequeno revolucionário, filho abandonado pela família Thénardier que havia ido à falência, avisa o grupo de que o general Lamarque está morto, morto pela aristocracia. Esse era o sinal que esperavam, o grande dia chega e lutam contra a Guarda Nacional. Todos os integrantes da ABC, exceto Maris que é salvo pelo personagem protagonista Jean Valjean, são mortos. Além destes, o proletariado, que se armou e lutou até que a ultima gota de sangue caísse, morre em sua extrema maioria. Nessa cena, é perceptível o amor dos revolucionários pela ideia de liberdade, de uma futura democracia. Enjolras, ao levar um tiro da Guarda Nacional, levanta a bandeira vermelha e morre, representando a ideia de “liberdade ou morte” pois afinal, segundo as palavras do personagem, era só isso que importava, diante de suas vidas insignificantes. 
       



          Personagens como Fantine e Jean Valjean não carregam consigo a importância política deste período, porém, representam a miséria, vida repleta de injustiças. Jean Valjean é um homem que, logo no começo do filme, é preso por roubar um pão, por não ter o que comer. Fantine representa uma mãe solteira. Trabalha como costureira para pagar a família Thénardier, que “cuidava” de sua filha, a pequena Cosete. Esta era maltratada pelos Thénardier e era tratada como uma empregada, fator que nos leva a percepção de como eram as relações nesta época. Além disso, podemos perceber o preconceito que tinham na época a partir da historia de Fantine: Por ser mãe solteira, é demitida de seu emprego precário e absurdamente mal pago (sem direito trabalhista algum, claro) e jogada nas ruas, onde terá uma vida triste, terá que se prostituir para sustentar Cosete. Uma vida feita de sonhos, “diferentes deste inferno que eu vivo” como canta a personagem na famosa canção “I dremed a dream”.
     
           Por fim, devo dizer que acho que a ideia que este filme, que esta obra nos passa é de uma época em que sangues eram derramados por um sonho de liberdade. O filme acaba com uma revolução frustada, porém, sabemos que o fim da revolução francesa levará a uma democracia, assim como sonhavam. Claro que a burguesia tomará o poder para si e o proletariado continuará lutando, agora contra a burguesia, afinal, é tudo sobre um eterna luta de classes. Como dirá Marx, a evolução é originada a partir de conflitos, sendo positiva ou não. O filme se encerra com a linda cena da eterna luta, eterna busca pela liberdade, onde mostra todos os personagens que haviam morrido, lutando. Todos juntos nas barricadas, pois a “para os miseráveis da terra, há uma chama que nunca morre”, a chama da liberdade. Cantam o epilogo (canção final: Epilogue) pois “até a noite mais escura vai acabar e o Sol vai nascer”. Um antigo regime, preto, irá acabar, e nascerá um novo dia, um novo mundo: Vermelho. 



                                           (Gavroche: "Todos são iguais quando estão mortos.")

                          


Tradução das três canções do filme citadas: 
Epilogue – Les Miserables: http://letras.mus.br/les-miserables/771277/traducao.html
The ABC Café: Red and Black - Les Miserables: - http://letras.mus.br/les-miserables/325698/traducao.html
I dreamed a dream - Les Miserables - http://letras.mus.br/les-miserables/26364/traducao.html

Um comentário:

Izildinha Vitoreli disse...

Gostei muito deste trabalho.